Thursday, August 6, 2020

A "CUICA", O INSTRUMENTO ANALPHABETO



A "CUICA", O INSTRUMENTO ANALPHABETO
A NAÇÃO
12 de janeiro 1935

Adaptações interessantes de Paulo Campos,
um sambista de "escola" - De onde nasceu a
melodia das ruas - Contribuição a historia


Hountem publicamos um traba-
lho que é uma contribuição va-
liosa para os historiadores das
causas novas.

Tudo quanto se relaciona com
a “festa da alegria”, que em sua
parte puramente carnavalesca,
quer na contribuição que possa-
mos dar para que fique gravado
ainda mais, que carnaval é coisa
mais seria do que muita gente
pensa.

Foi João “Mina”, o Inventor
deste instrumento rude, a “cui-
ca”, que galgando sem reclame,
por seu valor proprio, dos “ter-
reiros" da “batucada”, onde
“raiou” o samba, sendo naquelle
tempo, estas reuniões clandesti-
nas, conseguiu chegar aos sa-
lões.

Vamos quasi fazer uma histo-
ja retrospectiva da origem do
nosso samba.

Assumpto por demais descu-
tido e contestado, nos enclinamos
a crér, ter sido o samba, uma
directriz variante das musicas
africanas, que nos legaram os
tempos coloniaes.

Foi o “Caxambu” e o “Ton-
go”, que no norte do Brasil por
transições e nova forma chegou
a actualidade com o nome de
"Cocô” e que no Rio, foi tam-
bem se transformando, sendo que
a forma mais aproximada, é o
antigo “Partido Alto”, de curto
côro, e versos de improviso, tira-
dos em descante; no centro uma
roda, para a qual eram chamados
os “mestres” da “Capoeira”, luta
muito typica, muito nossa, aliás
meio de defeza dos mais perfei-
tos, é que sem razão preterimos.
por outras importadas e menos
efficientes.

Para que se recorde, damos
dois córos, sendo que o segundo
é do “velho” Antonico, que dirige
hoje a Escola de Samba da Man-
gueira.

“Era meia noite, quando o va-
lente chego"

A cabrocha da bahia
No fazer carinho é má
Só para perguntar
O que tem Yá Yá"

Bis — Miná é có, ô, é cô minã é
(o que tem Yá, Yá)

O SAMBA CIVILIZA-SE

Transformando-se subindo os
morros, civilizando-se aos pou-
cos, indo do Estacio ao Morro de
S. Carlos, adaptando-se mais, fo-
ram introduzidos instrumentos
novos, que collocaram o tambor
em de inferioridade. Foram os
“tamborim”, a “Cuica”, os “pan-
deiros”, o “omelê”, os “ganzas”,
o cavaquinho, o violão, a clari-
neta, e por ultimo a flauta.

Cada dia se transformando,
passando por novas modifica-
ções, é justo que se destaque o
nome de Rubens Barcellos, ir.
mão do Alcebiadas (Bide), au-
tor de “Agora é cinza” e outras
composições victoriosas, já fale-
cido, foi um dos modificadores
da melodia popular.

Este foi sem favor, um dos in-
troductores do samba canção.

Depois novos compositores,
mais methodo, mais capricho,
mais melodia, mais esméro, e o
samba penetrou nos salões, en-
cantou muitos sarãos “chica”
venceu.

Surgiram novos astros, é hoje.
podemos dizer, uma victoria da
brasilidade.


Não se explicava que tendo nos
uma musica bem nossa, bem a
nosso feitio, fizessemos reclame
das importadas, muitas vezes
com peores lettras, e bem razão
nos assiste, quando  affirmamos
que melodia selvagens nos são
impingidas como obras primas.

Nossa sociedade comprebendeu
em tempo, a “ala moça” soube
ver-lhe os encantos.

Quem não se lembra das com-
posições que forçaram as barrei-
ras dos preconceitos”?

Vem, vem,
que cu dou tudo a você,
menos vaidade.
tenho vontade
mas é que não pode ser

Chegou o Noel, bem um crea-
dor de estylo, um verdadeiro.
aperfeiçoador da nossa musica.
Quem não se lembra do “Com
que roupa”?

Com que roupa? Eu vou
Ao samba que você me con-
vidou


O SAMBA NA SOCIEDADE

Depois de fazer-se impôr, ja
se dansa samba de casaca.

Ja se ouvem nos banquetes de
gala, as nossas coisas.

Venceu por seu valor proprio.

Já o vimos até no Municipal,
fazendo “frente' nos bailes que
a Prefeitura organizou, com clas-
sicos que sempre nos fazem re-
cordar nas temporadas officiaes.

Agora apparece-nos um novo
aperfeiçoador da “cuica”, o ins-
trumento que casou com o samba

A “CUICA” O INSTRUMENTO
ANALPHABETO QUE SE APERFEIÇOA


Um authentico cultor do sam-
ba espontaneo, pensou e realizou
um grande melhoramento na
“cuica”.

Pela photographia acima, po-
de-se bem vêr as duas “chaves”
que conseguiu collocar na caixa
de som.

Com “tarracha” com os pan-
deiros, estas em numero de 5,
consegue já fazer o instrumento
vibrar numa tonalidade certa, na
medida dos accordes que a mu-
sica tiver.

E' mais uma contribuição nos-
sa para augmentar as que já te-
mos dado.

Assim nos falou Paulo Campos
este novo aperfeiçoador:

— “Por ser um instrumento
rude, a que tinha grande ami-
zade, por observações nos "saxe”,
cheguei a conclusão que ada-
ptando á caixa, uma serie de
“chaves”, faria chegar à tonali-
dade que quizesse. Assim proce-
di, colhendo os melhores resulta-
dos. As “chaves”, são como as
do outro instrumento, forradas
de lã, para melhor vedarem o
som.

Coisas bem interessantes se
podem dizer a respeito da cui-
ca", e faço questão de enume-
ral-as.

A haste central pode ser de
flexa, pouco aconselhavel por sua
pouca resistencia, de “guachim-
ba", cuja casca é empregada na
cordoalha, e de taquara como
mais se usa.

A “cuica” deve ser tocada com
um tecido de seda, por esta fa-
zenda a que mais faz sobresair
o som.

Deve ser “encourada” com
pelle de carneiro, por ser a mais
resistente e mais fina, se pres.
tando melhor que qualquer ou-
tra”.

Deixamos com isto mais esta
collaboração espontanea, que se
utilizem os estudiosos do as-
sumpto.


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